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Mai 11

Para os mais jovens, particularmente para aqueles que nasceram depois de Abril de 1974, não é fácil descrever como era viver em Portugal no período salazarista.

Uma descrição sucinta desse quase meio século de regime pode ter vários ângulos de abordagem. O fraco desenvolvimento industrial, as profundas desigualdades sociais, a pobreza de muitos cidadãos, a ausência de direitos dos trabalhadores, como o direito à greve, o conservadorismo nos costumes, a política colonial que levaria à guerra, a partir dos anos 60, sobretudo em Angola, Moçambique e Guiné, a atitude paternalista face às populações e aos seus anseios, a ausência de liberdade de formar partidos políticos, de reunião e de expressão do pensamento através da comunicação social, o desrespeito pelos Direitos do Homem, as prisões arbitrárias, a tortura infligida aos presos políticos constituem apenas algumas das características do Portugal de então.

Mesmo para quem tenha vivido nesse tempo, há por vezes dados que a memória foi apagando. Sabia o leitor, por exemplo, que as mulheres apenas tiveram direito de voto depois de 1968? Que apenas em 1971, três anos antes do 25 de Abril, uma mulher foi nomeada para um cargo governativo (Secretária de Estado da Assistência)? Que até 1969 as mulheres só poderiam sair do país, mesmo para um curto período de férias, se apresentassem uma autorização escrita dos maridos? Que uma bebida como a Coca Cola era proibida?

No capítulo da comunicação social, uma feroz censura prévia, exercida por comissões de censura, compostas sobretudo por militares reformados, examinava previamente tudo o que se destinava a ser publicado nos órgãos de comunicação e indicava tudo o que era proibido: notícias ou comentários, ou mesmo imagens, que reflectissem, directa ou indirectamente, alguma crítica ao regime, aos seus dirigentes e às suas decisões e opiniões. Durante muitos anos, houve mesmo pessoas, cujos nomes não poderiam ser publicados, como aconteceu com o do Bispo do Porto, depois de críticas que dirigiu ao regime. A polícia apreendia, nas editoras ou mesmo nas livrarias, livros que fossem considerados subversivos, impedindo a sua venda ao público. A legislação dificultava a criação de jornais e, durante muitos anos, só se poderia ser director de um jornal se a censura expressamente o autorizasse. Nas chamadas províncias ultramarinas, a legislação em vigor impunha que os livros apreendidos fossem queimados pelo fogo!...

Com este quadro, aqui retratado de forma muito sucinta, quem se poderia admirar da euforia com que o 25 de Abril foi recebido pela generalidade dos portugueses?...

 

 

(Alberto Arons de Carvalho - Maio de 2011)

publicado por mitouverdade às 17:06

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