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Abr 11

Um povo formatado durante séculos por uma religião que, apesar dos belos princípios, sempre optou por, no terreno, praticar o mais denso obscurantismo – misto de medo, superstição e crendice – prática de que só muito recentemente e de forma geograficamente irregular se vai libertando, é um povo talhado para a desresponsabilização total, para a entrega acéfala e acrítica do seu destino nas mãos do “ser superior” que tudo sabe e tudo pode... e ainda ficar agradecido.

Se juntarmos a isso um analfabetismo generalizado, o medo/ódio de toda a diferença, o tão mediterrânico “deixa-andar” aliado ao lusitano “xico-espertismo”, está encontrado o habitat perfeito para o aparecimento do “homem providencial” que, no caso português e por tudo o que já disse, teve das ditaduras o essencial - a violência, a tortura, a força bruta - somado ao nosso “toque” nacional de ignorância, atraso, isolamento.  A fórmula ideal para a criação do “salazarismo” e o seu “Estado Novo”... este, um evidente eufemismo para fascismo à portuguesa. Um fascismo bacoco mas nem por isso menos criminoso; um fascismo em muitos aspetos ridículo, mas nem por isso menos abjecto; um fascismo “santarrão”, mas nem por isso menos vendido aos interesses terrenos; um fascismo ostensivamente apoiado pela força, mas surdamente sustentado pela cobardia, delação e egoísmo.

O “salazarismo e o Estado Novo” floresceram neste caldo feito de tudo o que está atrás descrito, temperado com a instigação ao ódio à política, aos políticos e aos partidos, uma fórmula potencialmente explosiva que hoje, nuns casos, por pura irresponsabilidade, noutros, por interesse, alguns tentam reproduzir.

Felizmente, como em todos os organismos doentes, grande e decisiva é a força dos anticorpos que, todos os dias, combatem a doença. Se é verdade que o fascismo português parece ser uma coisa já derrotada e arrumada nos livros de História, não é menos verdade que, como disse Bertold Brecht, «o ventre donde isto saiu ainda é fecundo». Por isso, a luta decisiva contra o “vírus” do “salazarismo e estado novo”, não deve ser dirigida contra uma qualquer entidade estranha, escondida ou distante, antes deve ser uma luta contra nós próprios. Contra o nosso comodismo, a nossa inveja, a nossa cupidez, a nossa ignorância.

Dentro de nós pode florescer tudo o que é belo, humano e solidário, mas é também exclusivamente dentro de cada um de nós que germinam as sementes de todos os males. Optemos pelo que é bom e belo e humano e solidário!

 

 

(Samuel Quedas - Abril de 2011)

publicado por mitouverdade às 23:54

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