18
Mai 11

Para os mais jovens, particularmente para aqueles que nasceram depois de Abril de 1974, não é fácil descrever como era viver em Portugal no período salazarista.

Uma descrição sucinta desse quase meio século de regime pode ter vários ângulos de abordagem. O fraco desenvolvimento industrial, as profundas desigualdades sociais, a pobreza de muitos cidadãos, a ausência de direitos dos trabalhadores, como o direito à greve, o conservadorismo nos costumes, a política colonial que levaria à guerra, a partir dos anos 60, sobretudo em Angola, Moçambique e Guiné, a atitude paternalista face às populações e aos seus anseios, a ausência de liberdade de formar partidos políticos, de reunião e de expressão do pensamento através da comunicação social, o desrespeito pelos Direitos do Homem, as prisões arbitrárias, a tortura infligida aos presos políticos constituem apenas algumas das características do Portugal de então.

Mesmo para quem tenha vivido nesse tempo, há por vezes dados que a memória foi apagando. Sabia o leitor, por exemplo, que as mulheres apenas tiveram direito de voto depois de 1968? Que apenas em 1971, três anos antes do 25 de Abril, uma mulher foi nomeada para um cargo governativo (Secretária de Estado da Assistência)? Que até 1969 as mulheres só poderiam sair do país, mesmo para um curto período de férias, se apresentassem uma autorização escrita dos maridos? Que uma bebida como a Coca Cola era proibida?

No capítulo da comunicação social, uma feroz censura prévia, exercida por comissões de censura, compostas sobretudo por militares reformados, examinava previamente tudo o que se destinava a ser publicado nos órgãos de comunicação e indicava tudo o que era proibido: notícias ou comentários, ou mesmo imagens, que reflectissem, directa ou indirectamente, alguma crítica ao regime, aos seus dirigentes e às suas decisões e opiniões. Durante muitos anos, houve mesmo pessoas, cujos nomes não poderiam ser publicados, como aconteceu com o do Bispo do Porto, depois de críticas que dirigiu ao regime. A polícia apreendia, nas editoras ou mesmo nas livrarias, livros que fossem considerados subversivos, impedindo a sua venda ao público. A legislação dificultava a criação de jornais e, durante muitos anos, só se poderia ser director de um jornal se a censura expressamente o autorizasse. Nas chamadas províncias ultramarinas, a legislação em vigor impunha que os livros apreendidos fossem queimados pelo fogo!...

Com este quadro, aqui retratado de forma muito sucinta, quem se poderia admirar da euforia com que o 25 de Abril foi recebido pela generalidade dos portugueses?...

 

 

(Alberto Arons de Carvalho - Maio de 2011)

publicado por mitouverdade às 17:06

O "Mito ou Verdade" propôs ao Jornalista, Assistente Universitário e Político  Alberto Arons de Carvalho  que realizasse uma pequena crónica acerca de Salazar e do Estado-Novo. No entanto antes de a expormos iremos apresentar uma pequena biografia do nosso Cronista:                               

 

 

 

 

 

 

 

Alberto Arons Braga de Carvalho nasceu em Lisboa em 20 de Setembro de 1949.

Licenciado em Direito, pela Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa, foi redactor dos jornais República (1974-1975) e de A Luta (1975-1976), assistente da Escola Superior de Meios de Comunicação Social (1979-1981) e da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa (desde 1983).

Candidato a deputado pela Oposição Democrática, nas eleições legislativas de 1973, aderiu ao Partido Socialista em 1974. Foi dirigente da JS, deputado à Assembleia Constituinte (1975-1976) e, posteriormente, à Assembleia da República, durante nove legislaturas (1976-2009). Foi vice-presidente do Grupo Parlamentar do PS (1994-1995) e chamado a integrar os XIII e XIV Governos, como Secretário de Estado da Comunicação Social. Foi membro do Conselho de Imprensa (1975 e 1985-1988).

É autor de "Valerá a pena desmenti-los?" (2002), "A Liberdade de Informação e o Conselho de Imprensa" (1986), "A Censura e as Leis de Imprensa" (1973) — reeditado sob o título "A Censura à Imprensa na Época Marcelista" (1999) —, e co-autor de "Da Liberdade de Imprensa" (1971) e "Direito da Comunicação Social" (2003).


   

 

publicado por mitouverdade às 16:52

16
Mai 11

Acordas

na madrugada

manajeira

mulher mãe

começa a bater nas portas

acordas mulheres também

espera-vos 

campo

seara

suor

tranformado em pão

saudades do companheiro

que levado para a prisão

pelo pide que te odeia

porque lhe disseste 

não

quando ele queria 

o teu corpo

três vezes disseste-lhe

não

ceifeira

rosto cansado

olhos pretos

solidão

voltaste

a dizer que não

à besta daquele 

pide

que te meteu na prisão

papoila linda ceifeira

morreste dizendo

Não

que bela a tua jornada

abraço-te companheira

obrigada camarada

 

(Ester Pita - Maio de 2011)

publicado por mitouverdade às 18:26

O "Mito ou Verdade" execedeu-se no que à inovação diz respeito e propôs à bloguer, Comunista (como faz questão que digamos) e poetisa Ester Pita  que realizasse um poema onde retratasse a condição de uma mulher (no caso, Alentejana) no periodo do Estado-Novo. 

 

 

 

publicado por mitouverdade às 18:12

10
Mai 11

Quis a vida que eu vivesse em Estados totalitários de diversos campos políticos. Vivi até aos 18 anos em Portugal, sendo que parte da minha juventude decorreu antes do 25 de Abril de 1974, ou seja, durante uma ditadura de direita.

Originário de uma família simples, a tomada de consciência política e cívica ocorreu durante a minha passagem pelo Seminário da Ordem dos Combonianos, missionários que tiveram sérios problemas com o regime vigente em Portugal devido às suas posições fortemente críticas face à ação colonial dele em Moçambique. Foi precisamente aí que tomei contato com novas ideias políticas.

No entanto, o 25 de Abril de 1974 acelerou o processo de maturidade política, levando-me, nesse percurso, a aderir à União dos Estudantes Comunitas (UEC). Esta decisão deveu-se fundamentalmente ao descontentamento face às discrepâncias sociais existentes no nosso país. Enquanto jovem de uma família humilde, considerei que o socialismo marxista-leninista poderia ser a solução para os problemas de Portugal e da Humanidade.

Foi precisamente essa opção política que me levou a vir estudar para a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas em Setembro de 1977.

Chegado ao país que para os comunistas materializava “o futuro radioso da Humanidade” e o “socialismo desenvolvido”, constatei que a realidade pouco ou nada tinha a ver com a utopia de esquerda. Sendo um regime com um sinal ideológico contrário ao do Estado Novo em Portugal, o comunismo tem numerosas semelhantes, principalmente no que toca à violação dos mais elementares direitos humanos.

O processo de revisão da filosofia política e ideológica foi gradual, decorreu à medida que ia conhecendo cada vez mais profundamente o regime existente na União Soviética, tendo levado à rutura total com o comunismo, enquanto solução para os problemas das sociedades.

Para mim, não existem objetivos sociais e políticos nobres que justifiquem a existência de censura da imprensa, da expressão e do pensamento, a perseguição política de pessoas com ideias diferentes, bem como a limitação de outras liberdades fundamentais.

No fundo, o comunismo em pouco ou nada se distingue do Estado Novo, não obstante serem regimes de campos políticos diferentes.

 

(José Milhazes - Maio de 2011)

publicado por mitouverdade às 14:47

O "Mito ou Verdade", na linha de uma certa inovação, propôs ao Jornalista e bloguer José Milhazes  que realizasse uma pequena crónica acerca da vida de um jovem debaixo do Estado-Novo. No entanto antes de a expormos iremos apresentar uma pequena biografia do nosso Cronista :

 

 

 

 

 

 

 José Manuel Milhazes Pinto nasceu na Póvoa de Varzim, a 2 de Outubro de 1958, e é um jornalista e historiador português.

Começou os estudos secundários na Ordem Missionária dos Combonianos, mas terminou-os no Liceu Eça de Queirós da terra natal. Em 1977, parte para a União Soviética a fim de cursar História da Rússia e assistir à “construção do comunismo”, tendo  podido levar a cabo os seus estudos na Universidade Estatal de Moscovo (Lomonossov).

Formado em 1983, constituiu família e ficou a residir na URSS, dedicando-se à tradução de obras literárias (Tolstoi, Turgueniev, Erofeev), e políticas (Brejnev, Andropov, Chernenko, Gorbatchov), bem como de filmes de ficção de língua russa para português. A 8 de Agosto de 1989, escreve a primeira crónica para a TSF e, no ano seguinte, com o lançamento do jornal "Público", torna-se seu correspondente em Moscovo. Em 2002, começa também a colaborar com a SIC. A longa permanência na União Soviética e, depois, na Rússia, permitiu-lhe assistir e participar num dos períodos mais agitados do séc. XX: a queda da “cortina de ferro” e a formação de novos Estados no Leste da Europa.

É, juntamente com o jornalista Carlos Milhazes, um dos correspondentes na Rússia mais destacados da televisão portuguesa. Para isso também contribui a sua voz, extremamente parecida com a do escritor Baptista Bastos, imitada por alguns humoristas portugueses.

O gosto pela História e a vontade de aprofundar o estudo dos “laços entre o Partido Comunista Português e o Partido Comunista da União Soviética” leva-o a realizar trabalhos de investigação nos arquivos soviéticos para o Instituto de Ciências Sociais da Universidade Clássica de Lisboa e Fundação Mário Soares.

Actualmente, nas poucas horas livres de que dispõe, prepara a sua tese de doutoramento na Universidade do Porto sobre as "Influências do liberalismo português e espanhol no movimento dezembrista russo de 1825".

Recentemente lançou duas obras que foram "Samora Machel - Atentado ou Acidente?" e "Angola - O Princípio do Fim da União Soviética".

 

 

publicado por mitouverdade às 14:36

02
Mai 11

Durante todo o regime fascista, a mulher não teve um estatuto de independência e igualdade. Tanto na família como na sociedade, a mulher era considerada um ser inferior ao homem, dependente do marido ou do pai, que era o chefe da família. Esta visão patriarcal, partia de valores fascistas bem conhecidos, da lamentável trilogia “Deus, Pátria e Família” em que à mulher era destinado o papel da “fada” do lar e ao homem a responsabilidade do trabalho, da intervenção pública. Certas profissões estavam interditas às mulheres e toda a educação era feita na base das desigualdades de género.

Durante alguns anos, até a escolaridade básica para as mulheres era de apenas três anos, enquanto para os homens era de quatro anos. Salazar considerava que bastava saber “ler, escrever e contar”. Tudo isto contribuiu para o atraso de Portugal.

Só com a revolução de 25 de Abril de 1974 é que se pôs fim a esta situação.

A Constituição da República de 1976 consagrou, pela primeira vez em Portugal, o estatuto da igualdade e proibiu todas as discriminações.

Mas ainda falta muito para que a igualdade de género seja a realidade quotidiana da nossa sociedade. Vamos continuar a lutar contra as discriminações de que as mulheres continuam a ser vítimas e pela igualdade no progresso social.

 

(Ilda Figueiredo - Maio de 2011)

publicado por mitouverdade às 17:53

O "Mito ou Verdade", na linha de uma certa inovação, propôs a Eurodeputada e Economista Ilda Figueiredo  que realizasse uma pequena crónica acerca a Condição da Mulher no Estado-Novo. No entanto antes de a expormos iremos apresentar uma pequena biografia da nossa Cronista :

 

 

 

 

 

 

 

 

Maria Ilda da Costa Figueiredo nasceu no Troviscal, Oliveira do Bairro, em 30 de Outubro de 1948, no seio de uma família de agricultores.

Desde cedo decidiu cursar Economia, mas, antes de o fazer, e por sugestão dos pais, obteve formação que lhe permitiu desempenhar as funções de professora primária. No ano lectivo de 1967-1968 matriculou-se na Faculdade de Economia da Universidade do Porto.

Casou no dia do seu 19.º aniversário, mantendo residência em Aveiro e deslocando-se diariamente de comboio até ao Porto. Durante o seu segundo ano de casada foi viver para Vila Nova de Gaia onde melhor pôde conciliar a docência com os estudos, como aluna voluntária.

Durante a licenciatura confraternizou com colegas no "Café do Piolho", aos Leões, e foi incentivada por docentes como o Professor Jesus.

Em 1973 terminou o curso de Economia e, no ano seguinte, tornou-se militante do Partido Comunista Português.

Frequentou igualmente um mestrado em Administração e Planificação da Educação na Universidade Portucalense (1998), e o curso de Estudos Superiores Especializados em Administração Escolar, na Escola Superior de Educação do Porto.

No PCP pertenceu ao sector intelectual da Direcção e à Direcção Regional do Porto e desde os anos noventa que é membro do Comité Central.

Foi deputada à Assembleia da República entre 1979 e 1991, vereadora da Câmara Municipal de Gaia entre 1983 e 1991 e membro da respectiva Assembleia Municipal. Foi também Vereadora da Câmara Municipal do Porto entre 1994 e 1999.

Na sua passagem pela edilidade gaiense ficou associada, enquanto Vereadora do Ambiente, ao projecto do Parque Biológico, vocacionado para a educação ambiental.

Ilda Figueiredo leccionou no ensino básico durante um ano, foi professora na Escola Secundária Almeida Garrett, em Vila Nova de Gaia, e no Instituto Superior Jean Piaget, e orientou acções de formação sobre Organização Pedagógica da Escola e Gestão de Escolas.

Integrou a comissão organizadora que preparou a criação da Associação Nacional de Municípios, trabalhou como economista no Sindicato Têxtil do Porto e na União dos Sindicatos do Porto/CGTP.

É autora de artigos e de livros, nomeadamente sobre educação, foi colunista do Jornal de Notícias e colaboradora da rádio TSF.

É deputada ao Parlamento Europeu desde Julho de 1999, onde exerce os cargos de Vice-Presidente do Grupo Confederal da Esquerda Unitária Europeia/Esquerda Nórdica Verde, de Vice-Presidente da Comissão do Emprego e dos Assuntos Sociais e é Membro da Comissão dos Direitos das Mulheres e da Igualdade dos Géneros, da Delegação para as Relações com o Mercosul e da Delegação à Assembleia Parlamentar Euro-Latino-Americana e, ainda, Membro Suplente da Comissão da Agricultura e do Desenvolvimento Rural e da Delegação à Assembleia Parlamentar Euro-Mediterrânica.

 

publicado por mitouverdade às 17:38

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